Apresentação
Este terceiro Caderno Bíblico publicado pela Primeira Igreja
Presbiteriana do Recife trata da questão da pornografia. O consumo de material
erótico tem se tornado cada vez mais frequente entre os próprios evangélicos à
medida que a pornografia se torna mais e mais disponível através da mídia e da
Internet. Muito embora as estatísticas sugiram que a média de evangélicos
viciados em pornografia é menor do que a média entre outros grupos, ainda assim
permanece esta realidade perturbadora: muitos que se dizem filhos de Deus e
nascidos de novo vêem, de forma regular, imagens contendo material que, de
acordo com a Bíblia, é sexualmente imoral. Estas imagens expõem e promovem
explicitamente o adultério, a prostituição, a fornicação, o homossexualismo e
toda sorte de perversão sexual. Os grupos mais atingidos pela indústria
pornográfica são os de adolescentes e jovens, muito embora existam muitos
adultos envolvidos.
Este Caderno Bíblico vem a público numa tentativa de ajudar
aqueles que, de maneiras diferentes, são atingidos pela pornografia: maridos
que consomem material pornográfico, esposas que têm lutado contra a pornografia
ao perceber o envolvimento do marido, pais que descobrem que os filhos são
consumidores regulares e crentes que de alguma forma estão viciados em
pornografia. Enfim, o alvo deste Caderno é ajudar os crentes a manterem a
pureza sexual da mente, coração e corpo, que a Palavra de Deus determina.
O leitor notará que vários exemplos e estatísticas vêm do
exterior, especialmente dos Estados Unidos. O motivo é a falta de dados
estatísticos no Brasil que nos informem adequadamente sobre a realidade da
indústria pornográfica brasileira. Muito embora encontremos bastante material
sobre a pornografia infantil no Brasil, pouco se fala sobre o consumo de outros
tipos de pornografia em nossa pátria. Assim sendo, em alguns casos tivemos que
fazer projeções aproximadas da situação brasileira, tendo outros países como
base estatística.
Os Cadernos anteriores trataram de temas polêmicos. O
primeiro versou sobre a ordenação de mulheres como pastoras, presbíteras e
diaconisas. O segundo abordou o tema bastante atual do fundamentalismo cristão.
Neste terceiro Caderno procuramos enfocar uma questão mais prática, que toca na
realidade de muitas famílias.
O presente Caderno é resultado do trabalho conjunto da
equipe pastoral da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife. Agradeço aos
pastores Kennede Soares e Paulo Brasil, bem como ao seminarista Samuel
Vitalino, pela ajuda na elaboração do conteúdo e ao pastor Robério Basílio pela
revisão final. A irmã Linda Oliveira corrigiu o português. O presbítero Josimar
Gonzaga deu a forma gráfica do Caderno. A todos nossa gratidão.
Rev. Augustus Nicodemus Lopes
O Que É Pornografia?
Alguém já disse que é mais fácil reconhecer a pornografia do
que defini-la. De forma geral, podemos dizer que pornografia é a representação
da nudez e do comportamento sexual humano com o objetivo de produzir
excitamento sexual. Esta representação é feita através de imagens animadas
(filmes, vídeos, computador), fotografias, desenhos, textos escritos ou
falados. A pornografia explora o sexo, tratando os seres humanos como coisas e,
em particular, as mulheres como objetos sexuais.
A palavra pornografia vem do grego e significa
literalmente “escrever sobre prostituta”. Com o tempo, passou a referir-se a
qualquer material, escrito ou gráfico, de conteúdo sexual. O termo é usado hoje
de forma negativa. A indústria pornográfica que produz filmes, revistas, vídeos
e sites na Internet, prefere usar outros termos, como “material adulto”. Esta
manobra é um eufemismo que visa retirar deste sórdido comércio a pecha negativa
que ele possui.
É importante, porém, fazer uma distinção entre erotismo e
pornografia. Existe um erotismo saudável, que consiste na exploração da
sexualidade dentro do casamento. O livro de Provérbios nos traz um exemplo disto:
“Bebe a água da tua própria cisterna e das correntes do teu poço. Derramar-se-iam por fora as tuas fontes, e, pelas praças, os ribeiros de águas? Sejam para ti somente e não para os estranhos contigo. Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias. Por que, filho meu, andarias cego pela estranha e abraçarias o peito de outra?” (Pv 5.15-20)
Ou ainda, o livro de Cantares de Salomão:
“Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho” (Ct 1.2).
“Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha! Quanto
melhor é o teu amor do que o vinho, e o aroma dos teus unguentos do que toda
sorte de especiarias! Os teus lábios, noiva minha, destilam mel. Mel e leite se
acham debaixo da tua língua, e a fragrância dos teus vestidos é como a do
Líbano” (Ct 4.10-11).
“Os teus beijos são como o bom vinho, vinho que se escoa suavemente para o meu amado, deslizando entre seus lábios e dentes. Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim. Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos cedo de manhã para ir às vinhas; vejamos se florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as romeiras; dar-te-ei ali o meu amor” (Ct 7.9-12).
Estas passagens mostram que o Senhor nos criou com sexualidade
e que a mesma pode ser explorada e desfrutada dentro do ambiente do casamento.
A pornografia é diferente, pois visa o excitamento sexual através da exibição
de imagens explícitas de sexo, nudez e órgãos sexuais sem fazer qualquer
distinção moral ou levar em conta adultério, prostituição, lesbianismo, além de
formas pervertidas de relações sexuais.
Breve Histórico da Pornografia
A representação gráfica da nudez humana, bem como das
relações sexuais, é algo bem antigo na história do homem. A arqueologia revelou
que em muitas das paredes dos templos pagãos cananitas, que foram destruídos
pelos israelitas quando conquistaram a terra por volta de 1.300 anos antes de
Cristo (Lv 26.1; Nm 33.52), havia desenhos de órgãos sexuais masculinos e
femininos. Essas são as formas mais antigas de pornografia que conhecemos.
Os
cananitas aparentemente representavam os órgãos genitais nas paredes para
excitar os adoradores e estimulá-los à prática da prostituição sagrada. Os
israelitas, em contraste, tinham uma atitude totalmente diferente quanto à
exposição dos órgãos sexuais. Em suas Escrituras Sagradas estava escrito que
Deus cuidou em cobrir a nudez do primeiro casal após a Queda (Gn 2.25; 3.7-10).
Havia uma preocupação em que as vestimentas cobrissem os órgãos genitais (Ex
28.42-43), a ponto de existir uma determinação na lei de Moisés de que o
sacerdote deveria ter cuidado para não subir as escadas do altar de forma a
deixar que seus órgãos genitais ficassem expostos (Ex 20.26). Cão, o filho de
Noé, foi condenado por ter visto a nudez de seu pai. A própria Bíblia se refere
à genitália de forma reservada, usando às vezes eufemismos como “nudez” (Lv
18), “pele nua” (Ex 28.42), “membro viril” (Dt 23.1), “entre os pés” (Dt 28.57)
e “parte indecorosa” (1Co 12.23), só para citar alguns exemplos.
Os gregos antigos usavam temas pornográficos em canções
empregadas nos festivais em honra ao deus Dionísio, séculos antes de Cristo.
Nas ruínas romanas de Pompéia, destruída na erupção do Vesúvio em 79 d.C., há
pinturas pornográficas nas paredes de algumas edificações representando órgãos
sexuais masculinos e propaganda de serviços de prostituição.
A pornografia também era usada em algumas culturas orientais
antigas como Índia, Japão e China.
Bastante antiga e amplamente divulgada é a
obra Kama Sutra, escrita na Índia por volta do ano 2500 a.C., um manual
contendo gravuras das mais grotescas formas de relação sexual. Na Europa
medieval, o Decamerão (1353) do italiano Giovanni Boccaccio, obra
abertamente pornográfica, tinha grande circulação.
Com o advento da mídia eletrônica em décadas recentes, a
pornografia passou a ser um problema social de grandes proporções. O cinema, a
televisão, o vídeo e a TV a cabo se tornaram canais poderosos pelos quais todos
os tipos de pornografia se tornaram amplamente disponíveis ao grande público. A
partir daí a indústria pornográfica cresceu de forma massiva, pois as pessoas
passaram a consumir pornografia em suas próprias casas, sem precisar ir ao
cinema ou à banca de revistas.
Surgiram também jogos pornográficos de
computador. E mais tarde, com o advento da Internet, a disponibilidade e a
facilidade de acesso à pornografia multiplicou-se de forma inimaginável. Devido
ao acesso internacional e ao custo zero de copiar e baixar imagens na Internet,
a cyber-pornografia tornou-se a forma mais popular de pornografia
hoje.
Os Diversos Tipos de Pornografia
Os estudiosos do assunto, bem como os legisladores, fazem
geralmente uma distinção entre diferentes tipos de pornografia, para fins de
estudo e compreensão:
1. Softcore – Refere-se a material pornográfico
que apresenta imagens de nudez e cenas que apenas sugerem a relação sexual.
2. Hardcore – Contém representação explícita dos
órgãos genitais em cópula e de relações sexuais de toda a sorte.
3. Snuff – Fala-se ainda de vídeos snuff,
onde pessoas praticam atos sexuais e depois são assassinadas. Entretanto, não
se conhece nenhum exemplar destes vídeos que tenha sido distribuído
comercialmente.
4. Pornografia infantil – É a representação, sob
qualquer forma, de criança em ato sexual implícito ou explícito, simulado ou
real, ou qualquer representação dos órgãos sexuais da criança para fins
sexuais.
5. Erótica – Algumas feministas fazem uma
distinção entre pornografia, que é a sujeição e degradação sexual da mulher
através de imagens que representam o homem dominando e humilhando a mulher
sexualmente, e a erótica, que é a representação sexual de homem e mulher
em posição de igualdade e respeito mútuo.
Estas distinções podem nos ajudar a entender melhor o
assunto e a perceber como diferentes pessoas entendem a pornografia.
Entretanto, todas as diferentes formas de pornografia têm em comum a exposição
pública da nudez e das relações sexuais humanas, com vistas ao despertamento
sexual indiscriminado. Por este motivo, os cristãos não devem se deixar iludir
por estas distinções, como se alguma forma de pornografia fosse menos errada do
que outras.
A Situação Legal da Pornografia em Alguns Países
A pornografia é uma das formas mais polêmicas de expressão.
As sociedades vêm debatendo há muito se material pornográfico deveria ser
censurado e como fazer a distinção entre nudez artística e pornografia. No
ocidente, onde a liberdade de expressão é uma marca distintiva das democracias,
o assunto tem se tornado ainda mais agudo. Além disto, discute-se a realidade
das consequências sociais e psicológicas da pornografia.
A situação legal da pornografia depende do país. A
pornografia infantil é considerada ilegal na totalidade dos países. A
legislação brasileira define pornografia infantil como sendo “cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente”. A pena de
reclusão é de um a quatro anos para a produção e publicação da pornografia
infantil.
Entretanto, a maioria dos países permite a comercialização e
a distribuição de alguma forma de pornografia. No Brasil, bem como na maioria
dos países, a pornografia softcore é geralmente permitida nas bancas
de revista, videotecas, televisão e cinemas. A hardcore é permitida
da mesma forma, mas com algumas restrições, como por exemplo, uma capa de
plástico com tarjeta preta para as revistas hardcore. A maioria dos países
tenta restringir o acesso de menores à pornografia hardcore, permitindo a
sua comercialização somente em seções “adultas” de videotecas, livrarias e em
TV a cabo. Entretanto, estes esforços têm se mostrado ineficazes para
restringir o acesso da população em geral às formas de pornografia consideradas
mais danosas, por causa da grande disponibilidade deste material na Internet e,
obviamente, pela inclinação do coração humano a toda sorte de obscenidade.
A maioria dos países ocidentais tem restrições à pornografia
que envolva violência e bestialismo (sexo com animais). A Holanda e a Suécia,
entretanto, permitem a venda deste material abertamente nos sex-shops e
após os 15 anos de idade, os jovens podem assistir filmes pornográficos de
qualquer tipo. Na Grã-Bretanha, a pornografia hardcore continua sendo
ilegal, embora tolerada. No Japão, até recentemente, a exibição dos órgãos
genitais era proibido, e a softcore permitida.
Pode parecer, pelas diferentes atitudes dos países, que os
aspectos morais relacionados com o consumo da pornografia seja uma questão
cultural. Entretanto, não são apenas questões culturais que levam esses países
a restringir ou permitir a pornografia. Questões financeiras e econômicas
influenciam os governos. A pornografia é uma grande indústria que gera milhões
de dólares anuais em impostos. A venda de material pornográfico em sex-shops –
que inclui vídeos e acessórios encomendados pela Internet – representa uma boa
porcentagem do dinheiro movimentado pelo e-commerce (comércio pela
Internet). E estes números estão aumentando com a crescente enxurrada de
obscenidade no mundo.
O Crescimento da Pornografia no Mundo
Uma estatística de 1995 revelou que os americanos gastam
mais em pornografia do que em Coca-Cola. Não é difícil imaginar que a situação
no Brasil não é muito diferente. Um país antigamente fechado, como a China, em
1993 assistiu a uma enxurrada de material pornográfico em seus limites após ter
aberto, mesmo que um pouco, as suas fronteiras para receber ajuda estrangeira.
Mensalmente, cerca de 8 milhões de cópias de revistas pornográficas circulam no
Brasil. Em 1994 a venda de vídeos pornôs chegou perto de 500 milhões de
dólares. Não é de se admirar que as locadoras reservem cada vez mais espaço nas
prateleiras para vídeos pornôs. Segundo uma pesquisa em 1992, um em cada quatro
brasileiros assistiu a um filme de sexo explícito. O mesmo fizeram 13% das
mulheres entrevistadas. Em 1995 esse número dobrou para os homens e aumentou um
pouco em relação às mulheres. Recentes estatísticas mostram o crescimento
destes números.
Diversos acontecimentos recentes ao redor do mundo indicam o
avanço contínuo da pornografia. O mundo está sendo inundado com uma enxurrada
de imundícia. Vejamos alguns destes indícios.
1) Os governos aumentam cada vez mais a legalidade da
pornografia – Um exemplo é que em abril de 2002 o Supremo Tribunal dos
Estados Unidos revogou a Lei da Prevenção da Pornografia Infantil que havia
sido promulgada pelo Congresso em 1966. O argumento usado pelo Supremo Tribunal
foi que a liberdade de expressão estava sendo suprimida. A decisão reflete a
tendência cada vez maior para a legalização de todas as formas de pornografia.
2) As estatísticas mais recentes mostram o crescimento
vertiginoso da indústria pornográfica – Segundo estudos publicados em maio
de 2002, há mais de 400.000 sites pornográficos na Internet em todo o mundo, e
cerca de 70 milhões de pessoas visitam ao menos um site pornográfico por
semana.
Este crescimento é atestado por outras estatísticas. Em 2002,
o Observatório para a Publicidade do Instituto da Mulher, em Paris, recebeu 710
denúncias contra mensagens sexistas, o dobro das denúncias recebidas em 2000.
80% destas denúncias tinham a ver com a exploração do corpo feminino em
propaganda de produtos. Neste mesmo ano, em Bruxelas, a ONU publicou relatório
denunciando que milhões de pessoas em todo o mundo – a metade sendo de crianças
e uma outra grande parte de jovens mulheres – são exploradas sexualmente, o que
obviamente se refere não somente à prostituição, mas à pornografia. Ainda em
outubro de 2002, em Barcelona, a Feira Internacional do Cine Erótico exibiu ao
vivo relações sexuais pervertidas aos participantes da Feira.
3) O fracasso das estratégias governamentais em conter
o avanço da imoralidade – Conforme estudo do Jornal Médico Britânico
publicado na Inglaterra em 2002, as campanhas governamentais de prevenção da
gravidez de adolescentes estavam fracassando redondamente. A famosa rádio BBC
de Londres veiculou em 2002 que o governo inglês estava preocupado por não
conseguir conter a enxurrada de material pornográfico que atinge diariamente os
adolescentes ingleses pela Internet. De cada dez mensagens que recebem, uma
delas é pornográfica ou remete a algum site pornográfico. A mesma frustração do
governo inglês certamente se sente nos governos de outros países.
4) A constatação de danos cada vez maiores causados
pela pornografia – Continuamente surgem relatórios de diversos quadrantes
mostrando novos danos causados pela pornografia. Por exemplo, os estudos do
professor Richard Drake da Universidade Brigham Young nos Estados Unidos,
indicam que a pornografia pode ter efeitos na mente similares ao da cocaína,
produzindo dependência e distúrbios mentais.
Em Paris, numa reunião com mais de 1700 psicanalistas de 31 paises para tratar de novas formas de neuroses, destacou-se o fato de que cresce cada vez mais o número de pessoas viciadas em sexo, um problema que foi considerado como uma enfermidade psicológica, cujas consequências são a ruína econômica, problemas no casamento e em relações, problemas no trabalho, ansiedade e depressão. Todas estas evidências apontam para uma avalanche da imoralidade em todo o mundo, da qual a pornografia é o carro chefe. Além dos evidentes problemas espirituais que a pornografia causa, também contribui largamente para o crescimento da violência em todo o mundo.
Não são poucos os relatórios feitos por comissões de
pesquisadores que denunciam a estreita relação entre a pornografia e a
crescente onda de estupros, assédio sexual e exploração infantil nos países
“civilizados”. Vários dos temas mais comuns em pornografia do tipo hardcore incluem
cenas de sequestro e estupro de mulheres, geralmente com espancamento e
tortura, além de outras formas obscenas de degradação.
A mensagem que a
pornografia passa aos consumidores é que quando a mulher diz “não” na verdade
está dizendo “sim”, e que se o estuprador insistir, ela não somente aceitará
como também passará a gostar. Assim, a violência contra a mulher é exposta como
algo válido e normal. Estudos de especialistas mostram que 82% dos encarcerados
por crimes sexuais contra crianças e adolescentes admitiram que eram
consumidores regulares de material pornográfico. Só nos Estados Unidos, o
número conhecido de estupros pela polícia cresceu 500% em menos de 30 anos, o
que corresponde ao aumento da popularidade do material pornográfico e da
facilidade para ser encontrado. Cerca de 86% dos condenados por estupro
admitiram imitação direta das cenas pornográficas que assistiam regularmente.
Movimentos Anti-Pornografia
O crescimento vertiginoso da disponibilidade da pornografia
e os seus efeitos tem levantado reações no mundo todo. As críticas e ataques à
indústria pornográfica e aos seus consumidores vêm geralmente de religiosos
conservadores e do movimento feminista. Evangélicos e católicos têm atacado
fortemente a indústria da pornografia, especialmente nos países onde o
cristianismo conservador exerce alguma força política. Os argumentos usados
pelos religiosos contra a pornografia é que a mesma é imoral, que o sexo é
reservado para o casamento e que a pornografia aumenta o comportamento imoral e
a violência da sociedade.
No Brasil há esforços isolados por parte dos evangélicos, já
que não têm um representante nacional. Por exemplo, o deputado evangélico
Pastor Daniel Marins lançou na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 2001, um
projeto de lei que proíbe a exposição de modelos, masculinos ou femininos,
despidos ou seminus em placas publicitárias instaladas em vias públicas.
Segundo o Pastor Daniel, o projeto é resultado da luta do povo evangélico
contra a propaganda aberta e explícita de revistas, produtos e sites na
Internet destinados à exploração comercial da nudez e da pornografia, e foi
elaborado em conjunto com líderes de diversas denominações, comunidades e
associações evangélicas de todo o Estado de São Paulo.
O outro ataque à pornografia vem de uma ala do movimento
feminista que a considera como parte da agenda machista, que degrada a mulher e
induz à violência contra ela. Esta ala do movimento feminista é contra a
pornografia, não por valores morais ou convicções cristãs, mas porque a
considera como essencialmente machista, já que são os homens que mais a
consomem e são as mulheres as que mais são exploradas e humilhadas nesta indústria.
Estas feministas não representam, porém, a totalidade do movimento, onde
existem outras feministas que defendem a pornografia.
Existem ainda movimentos isolados, dirigidos por indivíduos
ou organizações não governamentais.
Um exemplo é Linda Boreman, ex-atriz pornô,
que usava o nome de Linda Lovelace. Após abandonar a carreira de estrela pornô,
passou a atacar a indústria pornográfica por causa da exploração das mulheres.
Outro exemplo é o grupo “Guerreiros Independentes contra a Pornografia Infantil”,
que se dedica a caçar consumidores e divulgadores da pornografia infantil pela
Internet. Existem várias outras organizações sem fins lucrativos batalhando
nessa cruzada. Uma delas, chamada de “Exército Cibernético de Caçadores de
Pedófilos”, tem mais de 10 mil membros cadastrados enviando dicas à polícia.
Esses grupos são compostos por Internautas que dedicam seu tempo livre
procurando manter contato com consumidores de pornografia infantil pela
Internet, para afinal entregá-los à polícia.
Muito embora os ataques à pornografia venham em grande parte
dos círculos evangélicos, é uma triste realidade que a pornografia tem suas
vítimas também dentro das igrejas evangélicas, como veremos a seguir.
Evangélicos “voyeurs”?
Voyeur é termo usado para descrever aqueles que têm prazer sexual observando outras pessoas nuas ou praticando relações sexuais. O voyeur não interage diretamente com o objeto do seu prazer, mas reage a ele através da masturbação. Este é o nome que se dá geralmente ao consumidor secreto de pornografia. É uma boa descrição para cristãos viciados em pornografia.
Há boas razões para acreditarmos que o número de evangélicos
no Brasil viciados em pornografia é preocupante. Pesquisadores estimam que nos
Estados Unidos cerca de 40% dos evangélicos estão afetados. Há quem ache que
este número é bem maior. Considerando que no Brasil a facilidade de se obter
material pornográfico é a mesma ou até maior que nos Estados Unidos,
considerando que a igreja evangélica brasileira não tem a mesma formação
protestante histórica da sua irmã americana, considerando a falta de posição
aberta e ativa das igrejas evangélicas brasileiras contra a pornografia como
acontece nos Estados Unidos, não é exagerado dizer que provavelmente cerca de
50% dos homens evangélicos no Brasil são consumidores de pornografia.
Talvez
esse número seja ainda conservador diante do fato conhecido que os evangélicos
no Brasil assistem mais horas de televisão por dia que muitos países de
primeiro mundo, enchendo suas mentes com programas que promovem a violência e o
erotismo, e assim abrindo brechas por onde a pornografia penetra e se enraíza.
Mais preocupante ainda é a probabilidade de que grande parte
desse percentual é de jovens adolescentes evangélicos. Uma pesquisa feita por
Josh McDowell em 22 mil igrejas americanas revelou que 10% dos adolescentes
haviam aprendido o que sabiam sobre sexo em revistas pornográficas. 42% deles
disseram que nunca aprenderam qualquer coisa sobre o assunto através de seus
pais. E outros 10% confessaram ter assistido a um filme de sexo explícito nos
últimos 6 meses. Uma extrapolação, ainda que conservadora, para a realidade das
igrejas brasileiras é de deixar pastores e pais em estado de alerta!
Aqui no Brasil, segundo pesquisa da revista Eclésia em setembro de 2002, feita entre jovens evangélicos de 22 denominações, 52% deles já praticaram sexo pré-marital. Destes, cerca da metade mantêm uma vida sexual ativa com um ou mais parceiros. A idade média em que perderam a virgindade é de 14 anos para os rapazes e de 16 anos para as moças, o que coloca as igrejas evangélicas cada vez mais próximas dos padrões mundanos. Um detalhe: estes jovens foram todos criados nas igrejas! Infere-se que em comunidades evangélicas onde as noções de moralidade são tão mundanas quanto as dos incrédulos, não é para duvidar que o consumo de pornografia seja corrente, aceitável e tolerado.
É preciso ainda notar que não são somente os homens que
consomem pornografia. Mulheres cristãs também incorrem neste hábito, embora
certamente numa proporção menor. Uma evangélica que se identifica como
“Solitária” dá o seguinte depoimento num site evangélico: “Tenho 30 anos de
idade e nunca consegui casar. Pensei que tinha direito de ser sexualmente
feliz, mesmo que o Senhor não tenha me dado um marido. Isto me levou a uma
longa e profunda batalha com a masturbação e a pornografia na Internet. No ano
passado, quebrantei-me após ouvir um sermão sobre pureza sexual em minha
igreja. Após isto, comecei um curso de 60 dias baseado em leituras da Bíblia e
acompanhamento de um mentor. Finalmente me vi livre. Também coloquei um filtro
contra a pornografia em meu computador.”
Escândalos envolvendo líderes evangélicos revelam
abertamente uma outra face do problema. Há pastores evangélicos que também são
viciados em pornografia. Por causa do receio de serem apanhados e de estragarem
seus ministérios, muitos pastores preferem optam por consumir pornografia como
voyeurs do que praticar o adultério de fato, embora alguns acabem eventualmente
caindo na infidelidade prática.
Uma mulher escreve num site evangélico: “Sou divorciada, mãe
de três adolescentes. Fui casada por dez anos, até que meu marido, pastor, teve
um caso extra-marital. Ele era viciado em pornografia desde os doze anos de
idade e lutou contra isto por muitos anos.”
Há diversos artigos sobre pornografia publicados em revistas
americanas e europeias de aconselhamento pastoral abertamente dirigidos a
pastores viciados em pornografia, visando ajudá-los.
Uma destas revistas, Leadership,
realizou uma pesquisa entre pastores de diversas denominações evangélicas e
chegou a conclusões terríveis: a cada dez pastores, quatro já haviam visitado
um site pornográfico. As seguintes perguntas e respostas compuseram a pesquisa:
Você já visitou um site pornográfico na Internet?
57%
|
Nunca
|
7%
|
Faz mais de um ano
|
9%
|
Uma vez no ano passado
|
21%
|
Algumas poucas vezes no ano
|
6%
|
Duas vezes ao mês ou mais
|
Em geral, segundo Leadership, pastores que gastavam
mais tempo diante da Internet eram os que mais provavelmente visitariam sites
pornográficos.
Pastores são vulneráveis à tentação de entrar num site
pornográfico como qualquer outra pessoa. No caso deles, talvez sejam ainda mais
vulneráveis. O isolamento e a solidão geralmente acompanham o ministério
pastoral. Além disto, muitos pastores negligenciam seus casamentos dedicando-se
por demais às demandas do ministério.
Alguns pastores podem cair nesta armadilha satânica
simplesmente por curiosidade em saber o que membros da sua igreja estão
consumindo na Internet e acabam sendo atraídos e enlaçados pelo poder da
pornografia. Além do mais, líderes que jamais ousariam entrar numa videoteca
para adquirir um vídeo pornográfico, no segredo e intimidade de seus lares e
escritórios acabam cedendo às facilidades da cyber-pornografia, que é
acessível, barata e anônima. As igrejas devem orar por seus pastores e líderes
para que sejam livres de toda tentação.
Análise Crítica dos Argumentos em Favor da Pornografia
Existem diferentes argumentos usados para defender o consumo
livre da pornografia. Analisemos alguns deles.
1) A pornografia como arte – Os defensores deste
ponto de vista argumentam que a maldade está na mente dos que vêem material
pornográfico. Em si, defendem eles, a pornografia simplesmente explora a beleza
natural da nudez humana e das relações sexuais, e deveria ser vista como arte.
Os que sustentam este ponto insistem que a nudez é inofensiva e também uma
forma de arte. Entretanto, este argumento erra ao deixar de reconhecer que a
indústria pornográfica produz bastante material sexualmente explícito onde a
mulher é degradada e humilhada, onde o foco são os órgãos genitais humanos,
onde adolescentes são violentados e a sodomia e o homossexualismo são
divulgados. Se por um lado a nudez humana é bela, após a Queda (pecado de Adão
e Eva) o Criador determinou que ela fosse encoberta (Gn 3.21), pois a inocência
em que esta beleza podia ser apreciada e desfrutada (Gn 2.25) foi corrompida
pelo pecado (Gn 3.7-11). A nudez, como preparação para o ato sexual, fica
reservada para o casamento (cf. Levítico 18).
2) A Bíblia está muito mais preocupada com dinheiro e
materialismo do que com nudez e cobiça – De acordo com este argumento, os
cristãos conservadores são obcecados contra a pornografia que existe nos
filmes, mas esquecem que estes também divulgam muita violência, materialismo e
bruxaria. Entretanto, o argumento não é inteiramente verdadeiro. Embora a
Bíblia tenha muitas passagens contra o mal uso do dinheiro, ela também tem
muitas passagens contra a imoralidade sexual e a impureza mental. Devemos
combater ambas as coisas.
3) Não há provas conclusivas de que a pornografia seja
prejudicial – Este argumento tem sido usado pelos defensores da pornografia
em resposta a relatórios de comissões governamentais de diversos países para
analisar os efeitos sociais, psicológicos e econômicos da pornografia. Muitas
destas comissões concluíram que existe uma relação entre o consumo da
pornografia e a violência contra mulheres e crianças, o crescimento dos índices
de divórcio, de doenças venéreas e da AIDS, de abortos e de mães solteiras. Os
defensores da pornografia argumentam, entretanto, que esta relação não pode ser
provada com critérios científicos. Porém, não são necessários critérios
científicos para provar o que é óbvio, ou seja, o papel decisivo da pornografia
na escalada da imoralidade e suas conseqüências danosas. Muito embora não se
possa responsabilizar exclusivamente a pornografia por todos os males da
sociedade, ela certamente tem contribuído para os mesmos. Ela provoca a
excitação e o despertamento sexual através de imagens que contêm cenas de
nudez, sexo deturpado, homossexualismo, lesbianismo, degradação e humilhação da
mulher e de crianças, criando nos consumidores uma inclinação para realizar na
prática aquilo que seus olhos e mentes consomem.
4) O direito de livre expressão assegura a publicação e
o consumo de material pornográfico – segundo os defensores da pornografia,
à censura é coisa de regimes autoritários. Nas democracias modernas se assegura
o direito de expressão a todos. Isto inclui, argumentam eles, o direito de se
publicar material pornográfico e o direito de se consumir este material. Porém,
os cristãos submetem suas consciências primeiramente à Lei de Deus. Se por um
lado as Escrituras reconhecem a individualidade e a liberdade, por outro elas
traçam muitos limites claros sobre o que se pode ver e meditar e aquilo com que
ocupar a mente. Por exemplo, o Senhor Jesus proíbe que se tenha fantasia sexual
olhando para uma mulher com intenção impura (Mt 5.28; cf. Ex 20.17; 2Sm 11.2;
Jó 31.1; Fp 4.8; etc). A liberdade individual é controlada pela Lei de Deus. O
crente não é livre para ocupar sua mente com qualquer coisa que deseje o seu coração.
Muito embora as leis de um país assegurem a liberdade de expressão, para os
cristãos tal liberdade é regulada pelos princípios da Palavra de Deus.
Outro aspecto é que em nome da liberdade de expressão os
adolescentes ganham cada vez mais acesso à pornografia. Meninos de 12 a 17 anos
são os maiores consumidores de pornografia, segundo estatísticas recentes. Por
isto, a indústria pornográfica procura viciá-los cada vez mais, para ter uma
clientela segura com o passar dos anos.
5) A pornografia pode ser usada como terapia –
Esta é uma defesa radical da pornografia apresentada inclusive por setores
feministas. De acordo com esta posição, o uso da pornografia, que é acompanhado
geralmente pela masturbação, provê uma forma de escape sexual para aqueles que
– por quaisquer motivos – não têm um parceiro sexual, como as pessoas que estão
longe de casa, pessoas que enviuvaram recentemente, estão isoladas por causa de
alguma enfermidade ou simplesmente porque escolheram ficar sozinhas.
Entretanto, o uso de pornografia e masturbação como meio de extravasamento do
impulso sexual viola os princípios da Palavra de Deus quanto à pureza sexual e
o emprego da mente e de nossa sexualidade. Além da determinação das Escrituras
para que os cristãos exerçam o domínio próprio nestas questões, existem outras
maneiras de aliviar-se o impulso sexual, como a prática de exercícios físicos.
Também, de acordo com esta argumentação, casais podem usar
pornografia para melhorar suas relações, assistindo juntos a vídeos eróticos, e
experimentando variação em sua vida sexual, sem ter que cometer adultério.
Entretanto, do ponto de vista bíblico, o fato de um cristão assistir com seu
cônjuge a vídeos pornográficos não diminui a imoralidade do ato. Continua sendo
adultério uma pessoa casada excitar-se sexualmente mediante as imagens de
outros homens e mulheres mantendo relações sexuais, mesmo que faça isto junto
com seu cônjuge.
6) É uma forma segura de sexo – Um outro benefício
da pornografia, de acordo com grupos feministas, é que permite que as mulheres
descubram e experimentem a sexualidade sem correr o risco de envolver-se com
parceiros que as contagiem com doenças venéreas e AIDS, engravidem ou as
sujeitem a humilhações e degradação. A isto respondemos que existem
alternativas bíblicas para que as mulheres desenvolvam sua sexualidade de forma
saudável e correta sem ter que recorrer à pornografia e à masturbação. Por
exemplo, na escolha acertada de seus cônjuges e desfrutando o sexo dentro do
casamento.
Podemos perceber que os argumentos em favor da pornografia
não levam em conta qualquer questão de valor moral. Enfocam apenas as questões
sociais e psicológicas. Os cristãos, entretanto, devem analisar esta questão e
outras à luz da Palavra de Deus. Apesar de todos os argumentos em contrário, a
pornografia em todas a suas formas continua sendo uma violação dos princípios
bíblicos de pureza moral e sexualidade saudável e correta. Infelizmente, a
consciência desta realidade nem sempre tem sido suficiente para evitar que
cristãos se tornem consumidores de pornografia.
O Que Tem de Mais em Ver Pornografia?
Muito embora os evangélicos em geral sejam contra a
pornografia (alguns apenas instintivamente) nem todos estão conscientes do
perigo que ela representa. Mencionamos alguns deles em seguida:
1) Consumir deliberadamente material pornográfico é
contribuir para uma das indústrias mais florescentes do mundo e que, não poucas
vezes, é controlada pelo crime organizado – A indústria pornográfica é uma
grande fonte de renda para o crime organizado em todo o mundo, juntamente com o
jogo e as drogas, movimentando bilhões de dólares por ano. A indústria da
pornografia apóia e promove a indústria da prostituição e da exploração
infantil. O dinheiro que pais de família gastam com pornografia deveria ir para
o sustento de suas famílias. Alguns podem alegar que consomem apenas
material soft contendo somente cenas de nudez — esquecendo que esse
material é produzido pela mesma indústria ilegal que comercializa a pornografia
infantil.
2) Consumir deliberadamente material pornográfico deixa
cicatrizes para o resto da vida – As imagens ficam gravadas a fogo na
mente e continuam lá para sempre, e vêm à tona com a excitação sexual. É
similar a fumantes, que mesmo tendo deixado o cigarro, permanecem com manchas
nos pulmões. É isto que testemunha um ex-viciado em pornografia, cujo
depoimento anônimo na revista Leadership chocou o mundo evangélico:
“Trago ainda hoje as cicatrizes do meu vício, apesar de já tê-lo vencido. Há a
cicatriz da ‘inocência corrompida’. A pornografia se alimenta de nossa
fascinação pelo que é proibido, e sempre estamos querendo mais. Minha vida de
fantasia sexual extrapolava em muito a minha vida sexual real no casamento. Eu
era um ‘voyeur’, experimentando sexo na solidão e isolamento, cada vez mais me
afastando da minha esposa”.
Mencionamos abaixo outras sequelas da pornografia:
a) Insensibilidade para com as perversões sexuais,
fazendo-as parecer cotidianas e rotineiras.
b) Comparação injusta entre o corpo do nosso cônjuge e
aquele dos modelos apresentados no material pornográfico, provocando impotência
e desinteresse sexual dentro do casamento.
c) O hábito da masturbação que se alimenta da pornografia,
sua matéria-prima.
d) Despersonificação dos seres humanos, ao exibir seus
corpos e órgãos genitais, sem que o rosto apareça.
e) Hábito de desnudar as pessoas com a imaginação, ou de
entreter fantasias sexuais enquanto conversa com pessoas do sexo oposto.
3) O consumo de pornografia abate e escraviza o crente –
Há muitos servos e servas de Deus que estão vivendo um conflito: querem servir
ao Senhor de todo coração, mas se vêem escravizados à pornografia. Esta derrota
tira-lhes a vontade de ir à Igreja, participar da Escola Dominical, ler a
Bíblia e orar e de testemunhar de Cristo a outros. Sobre isto, escreve o Pr.
Jorge Luiz César Figueiredo em artigo na Internet: “Quando a prática [da
pornografia] torna-se um círculo vicioso, torna-se algo terrível. Tenho ouvido
testemunhos de jovens que lutaram muito para vencer, alguns tiveram que ser
radicais e pediram aos pais para tirar o computador do quarto. Esse quadro
também cria uma falta de compromisso com Deus; o jovem não quer compromisso,
pois não quer pagar o preço da renúncia. Se você enquadra-se nesse perfil sabe
bem do que estamos falando. O sentimento de fracasso às vezes toma conta de
você e até pensa em desistir, em largar Jesus, mas como você pertence ao Cristo
de Nazaré, não pode mais voltar atrás”.
4) Consumir deliberadamente material pornográfico é
violar todos os princípios bíblicos estabelecidos por Deus para proteger a
família, a pureza e os valores morais. A própria palavra “pornografia” nos
aponta essa realidade. Conforme já vimos, ela vem da palavra grega pornéia.
Juntamente com mais outras três palavras (pornos, pornê e pornéuo) ela é usada
no Novo Testamento para se referir à prática de relações sexuais ilícitas,
imoralidade ou impureza sexual em geral. Frequentemente essas palavras de
raiz porn- aparecem em contextos ou associadas com outras palavras que especificam
mais exatamente o tipo de impureza a que se referem: adultério, incesto,
prostituição, fornicação, homossexualismo e lesbianismo. O Novo Testamento
claramente condena a pornéia: ela é fruto da carne, procede do coração corrupto
do homem, é uma ameaça à pureza sexual e devemos fugir dela, pois os que a
praticam não herdarão o reino de Deus. A pornografia explora exatamente essas
coisas — adultério, prostituição, homossexualismo, sado-masoquismo,
masturbação, sexo oral, penetrações com objetos e — pior de tudo — pornografia
infantil.
De Onde Procede o Desejo de Ver Pornografia?
A pergunta que fazemos é: de onde procede este desejo de
olhar e consumir material obsceno? Encontraremos as repostas na Bíblia, a
Palavra de Deus.
Ela nos ensina que na criação Deus fez o homem e a mulher
perfeitos e sem pecado e lhes deu alguns mandatos que deveriam ser
obedecidos, mostrando-lhes que eram criaturas, apesar de terem sido criados
perfeitos, sem pecado. Os mandatos foram estes, os quais continuam em vigor até
hoje:
1. Mandato Cultural – “Tomou, pois, o SENHOR Deus
ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn 2.15).
O homem foi colocado por Deus no jardim para cuidar das coisas criadas.
2. Mandato Espiritual – “E o SENHOR Deus lhe deu esta
ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás” (Gn 2.16-17). O homem foi criado para ter comunhão com
Deus. Esta comunhão estava condicionada à obediência ao que Deus havia
determinado quanto a não comer da árvore.
3. Mandato Social – “Então, o SENHOR Deus fez cair
pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e
fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor Deus tomara ao homem,
transformou-a numa mulher e lha trouxe. E disse o homem: Esta, afinal, é osso
dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão
foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se
os dois uma só carne” (Gn 2.21-24). O homem foi criado com a capacidade de ter
uma família. Este privilégio, porém, dar-se-ia dentro de algumas regras que
estavam implícitas na sua própria criação:
a) Monogâmico. O casamento deveria ser monogâmico, isto
é, entre um homem e uma mulher (“deixa o homem pai e mãe e se une à sua
mulher”, Gn 2.24).
b) Heterossexual. O casamento deveria também ser entre
pessoas de sexos diferentes.
c) Sexo. As relações sexuais estão diretamente ligadas
ao casamento. O plano de Deus foi que o sexo fosse desfrutado dentro do
ambiente seguro do casamento. Isto fica implícito na expressão: “deixa o homem
pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24).
Porém, depois da entrada do pecado no mundo todos esses
valores foram distorcidos e os mandatos divinos para o homem foram atingidos:
Quanto ao mandato cultural, o homem que havia sido
criado por Deus para cuidar das coisas criadas, tornou-se o próprio predador do
universo. Veja como está a situação do mundo, da natureza, dos rios, dos mares!
Estão todos sendo degenerados por causa do pecado do homem, por causa do
próprio homem. O mandato espiritual foi igualmente atingido. O homem
foi criado por Deus para ser obediente à sua vontade. Entretanto, hoje ele anda
fazendo a vontade do mundo, do diabo e da carne (Ef. 2.1-3). O mesmo pode-se
dizer do mandato social. O homem foi criado para ser monogâmico,
heterossexual e conhecer a sua esposa sexualmente somente no casamento.
Seguindo o que ocorreu com os dois primeiros mandatos de Deus depois da Queda,
o mandato social foi duramente atingido pelo pecado. O homem começou a casar-se
com mais de uma mulher e a cometer adultério.
O apóstolo Paulo condena essa
atitude:
“Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne” (1 Co 6.16).
Depois do pecado, o homem é escravo do pecado de tal forma
que as suas paixões e desejos são contrários à vontade de Deus, pois são
carnais (Gn 6.1-3). Longe de Deus e da sua vontade, o homem cada vez mais se
afasta das verdades de Deus e se entrega aos desejos do seu coração.
Deus na sua sabedoria criou o casamento para ser fonte de
procriação (Gn 1.28), de companheirismo (Gn 2.18) e de prazer (1Co 7.4-5),
indicando desta maneira que o sexo não foi criado para ser fonte de prazer sem
compromisso. No entanto, por causa do pecado, o homem tornou-se amante dos
prazeres (2Tm 3.4), vivendo a vida para a sua própria satisfação. O
descumprimento do mandato social e sua degeneração por causa do coração do
homem têm levado à prática de toda sorte de imoralidades (adultério, homossexualismo
e toda sorte de bestialidades).
Portanto, a culpa primária pela difusão e consumo da
pornografia não é da televisão nem das revistas do gênero, mas de um
coração morto nos seus delitos e pecados. “Porque do coração procedem maus
desígnios, homicídios,adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19). Claramente Deus afirma na sua Palavra que
os que praticam tais coisas não herdarão o reino dos céus: “... prostituição,
impureza, lascívia... a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora,
vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl
5.19-21).
A pornografia utiliza a criação de Deus, que é o próprio ser
humano, para se levantar contra Deus de tal forma que os seus membros são usados
para a iniqüidade. A Bíblia, entretanto, nos convoca a oferecermos nossos
membros ao serviço de Deus: “nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao
pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como
ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de
justiça” (Rm 6.13).
Como Evitar e Libertar-se da Pornografia?
Não precisaremos de argumentos sociais, médicos e
psicológicos para justificar a necessidade de evitarmos e nos libertarmos da
pornografia tais como AIDS, destruição familiar, vício, desvio financeiro para
esse fim, a falta de segurança e higiene nos locais destinados a esse fim,
entre muitos outros. Acreditamos que as razões bíblicas nos são suficientes
para dizermos não, mesmo que tenhamos de lutar contra a nossa própria vontade e
nosso próprio coração. “Aquele que quer vir após mim, a si mesmo se negue...”
são as palavras de Cristo para a nossa reflexão.
Uma vez que entendemos que a nossa natureza pecaminosa nos
impulsiona para o mal (Rm 3.10-12), temos que buscar meios pelos quais possamos
não sucumbir às muitas tentações que nos sobrevirão, cientes de que “não nos
vem tentação que não seja humana, mas Deus é fiel e não permitirá que sejamos
tentados além das nossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação nos
proverá também o livramento, de sorte que podemos suportar” (1Co 10.13); e
ainda: “naquilo que ele mesmo (Cristo) sofreu, tendo sido tentado, é poderoso
para socorrer os que são tentados” (Hb 2.18).
Tais promessas de Deus são como lenitivo para a alma. Mesmo
que o salário do pecado seja a morte, “o dom gratuito de Deus é a vida eterna,
em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23). Confiados nessas verdades ficamos
fortalecidos para lutar contra as nossas concupiscências e fazer a vontade de
Deus, pois “Ele é poderoso para nos guardar de tropeços e para nos apresentar
com exultação, imaculados, diante da Sua glória” (Jd 24).
Gostaríamos, portanto, de oferecer aos nossos leitores
algumas sugestões de como podemos evitar o mal que chamamos de pornografia:
1. Ter cuidado com o legalismo. Paulo escrevendo aos
Colossenses diz que as doutrinas dos homens como: “não manuseies isso ou não
toques naquilo... não terão valor nenhum contra a sensualidade” (Cl 2.21-23). A
mera letra não nos fará fugir da tentação, se não for acompanhada de uma disposição
muito forte do nosso coração de abandonarmos o prazer que a pornografia
porventura nos proporcione.
2. Evitar lugares que inspirem sensualidade. Uma vez
livres do legalismo, cada homem ou mulher deve conhecer suas limitações e
jamais provar seus limites. Temos que deixar morrer a nossa natureza terrena
(Cl 3.5-8). Aqui cabem as palavras do Salmo 1: “Bem-aventurado o homem que não
anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem
se assenta na roda dos escarnecedores”. Baseados nestas palavras sugerimos as
seguintes atitudes:
a) Escolher bem as amizades. Evitar aqueles amigos que
tentam nos desviar, não fazendo caso da Palavra de Deus.
b) Aconselhar-se com pessoas crentes e sábias, e
não com os ímpios.
c) Elevar os nossos pensamentos a Deus. Meditar dia a
dia na Sua Palavra (Salmo 1:2).
d) Fazer nosso culto particular a Deus e encher nossos
pensamentos com coisas edificantes. Em Filipenses 4.8, Paulo nos ensina em que
pensar: “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma
virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento”.
3. Uma mudança de hábitos. É necessário fugirmos da
tentação, antes que ela bata à nossa porta. Adquirir os seguintes hábitos pode
ser muito proveitoso na hora de evitar e libertar-se da pornografia:
a) Dormir cedo, evitando assim os programas televisivos
noturnos, que, via de regra, possuem conteúdo sexual.
b) Ficar na Internet apenas o tempo necessário. Não ficar
muito tempo sozinho diante do computador.
c) Ocupar o tempo livre (isso não inclui nosso devocional) com atividades esportivas e edificantes.
d) Evitar envolver-se em qualquer tipo de
conversação torpe (Ef 5.3-7).
4. Muito importante é evitar radicalmente o
acesso a revistas, vídeos, programas televisivos e sites pornográficos.
5. Estimular o culto doméstico. É sempre bom a família
estar unida em torno da Palavra de Deus. Este hábito fortalece o cristão.
Poderíamos colocar aqui muitas outras formas para ajudar
cada um a fugir da pornografia, mas o mais importante de tudo, muito além de se
colocar regras e estabelecer limites, é deixar muito claro que a raiz do
problema não é nenhum desses fatores externos, mas o próprio coração do homem
que é depravado e descomprometido com Deus, o Criador de todas as coisas. O
antídoto é a fé confiante no poder do evangelho de Cristo que pode e muda o
nosso caráter, imprimindo em nós uma nova natureza, regenerada e capaz, pela
graça de Deus, de dizer não ao pecado.
Ouçamos a voz de Deus, através das Sagradas Escrituras, e
busquemos a santidade oferecida no sangue de seu Filho Jesus Cristo: “tendo,
pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da
carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (1Co
7.1).
Conclusão
Ao final do nosso estudo, concluímos que a pornografia é um
mal que deve ser enfrentado e combatido. Acreditamos que os pastores e as
igrejas evangélicas no Brasil podem fazer algumas coisas, como por exemplo:
1. Ler os estudos e relatórios sobre os efeitos da
pornografia feitos por comissões especializadas;
2. Pregar sobre o assunto e especialmente dar estudos para
grupos de homens;
3. Desenvolver uma estratégia pastoral para ajudar os
membros das igrejas que são adictos à pornografia;
4. Não esquecer que muitos pastores podem precisar eles
mesmos de ajuda;
5. Criar comissões que se mobilizem ativamente contra a
pornografia, utilizando-se dos dispositivos legais que o permitam (uma possibilidade
é encorajar os políticos evangélicos a tomarem posições bem definidas contra a
pornografia);
6. Desenvolver uma abordagem que trate da sexualidade de
forma bíblica, positiva e criativa;
7. Tratar desses temas desde cedo com os adolescentes da
igreja, expondo o ensino bíblico de forma positiva;
8. Orar especificamente pelo problema.
Não estamos pregando uma cruzada de moralização, embora
evidentemente a igreja evangélica brasileira poderia tirar bastante proveito de
uma. A pornografia é um mal de graves conseqüências espirituais e sociais
embora não acreditemos que devamos fazer dela o inimigo público número um, como
algumas organizações moralistas e fundamentalistas dos Estados Unidos. Afinal
de contas, a raiz desse problema — e de outros — é o coração depravado e
corrompido do homem que só pode ser mudado pelo Evangelho de Cristo. Hitler
conseguiu em quatro anos banir da Alemanha todas as formas de pornografia e
perversão e incutir na geração jovem de sua época a aspiração por altos valores
morais e pela pureza da raça ariana. Os motivos eram errados e o projeto de
Hitler acabou no desastre que conhecemos.
Não acabaremos com a depravação moral
somente com leis e discursos políticos. Jack Eckerd, um empresário milionário
dono de um negócio que rendia mais de 2,5 milhões de dólares por ano, ao se
converter a Cristo em 1986, determinou que todas as publicações pornográficas
vendidas em suas 1.700 lojas fossem retiradas, mesmo que isso significasse a
perda de alguns milhões de dólares anuais. Quando o coração é mudado as
mudanças morais seguem atreladas.
Perguntas e Respostas Sobre Pornografia
Nesta seção de nosso Caderno procuramos responder às
perguntas mais comuns sobre a pornografia.
1) O que é pornografia?
Resposta: É a representação da nudez e do comportamento
sexual humano com o objetivo de produzir excitamento sexual. Esta representação
é feita através de imagens animadas (filmes, vídeos, computador), fotografias,
desenhos, textos escritos ou falados. A pornografia explora o sexo tratando os
seres humanos como coisas e as mulheres, em particular, como objetos sexuais.
2) Quais os fatores que contribuíram para o crescimento vertiginoso da indústria da pornografia?
Resposta: São diversos: (1) a liberação sexual iniciada
nos anos 60, trazendo libertinagem e permissividade; (2) a crescente exposição
da mulher, desde o surgimento do biquíni; o advento da pílula anticoncepcional;
o movimento feminista; (3) a ênfase das novas democracias em liberdade de
expressão; (4) o surgimento da Internet e do vídeo-cassete. No Brasil, após a
queda da ditadura, veio a liberdade de expressão e com ela a banalização da
pornografia.
3) A cultura e o clima do Brasil, aliados ao temperamento do povo brasileiro, favorecem a pornografia?
Resposta: Provavelmente. Concordamos com a opinião do
pastor batista Neander Kraul, publicado na revista Eclésia: “Em termos
culturais, temos uma miscigenação muito grande. Além disso, vivemos num clima
tropical, onde existe a tendência natural de querer expor o corpo. Mas, se no
Brasil existe a exposição exacerbada do nu, e até o modo de falar sobre o tema
‘sexo’ é escrachado [sic], o mesmo problema existe na Europa, na Dinamarca, na
Suécia, com outras características. É o mesmo pecado, só que com outros
rótulos. Na sociedade americana, o problema da pornografia é tão grave quanto
aqui. Mas aqui existe também um traço cultural: nós, latinos, temos facilidade
para banalizar as coisas. O sexo se torna jocoso, e o esdrúxulo é bem aceito.
Tudo é admissível. A sociedade banaliza a pornografia como mecanismo de
validação para que ela mesma possa engolir tudo isso”.
4) Por que as igrejas não falam mais deste assunto, já que certamente existem muitos membros viciados em pornografia?
Resposta: Primeiro, porque é considerado como assunto
melindroso de ser tratado em público; segundo, alguns líderes receiam despertar
o interesse das pessoas pela pornografia se começarem a falar sobre ela;
terceiro, pode ser que a própria liderança de algumas igrejas não se sinta
autorizada a falar contra isto pelo fato de estarem, eles mesmos, lutando
contra a adição à pornografia. Ao final, é dever da Igreja orientar seus
membros quanto ao ensino bíblico da sexualidade. E neste mister terá de encarar
a realidade da pornografia entre cristãos. Uma abordagem honesta, firme e
bíblica instruirá a comunidade sem despertar curiosidades indevidas.
5) Músicas populares com letras explicitamente sexuais são também consideradas como pornografia?
Resposta: Sim. A letra destas músicas contém convites à
relação sexual, expressa os desejos e taras sexuais dos autores, descreve as
relações sexuais. É inimaginável que cristãos se divirtam ao som de músicas
assim.
6) É lícito a casais cristãos usarem material erótico (como revistas e vídeos) em busca de maior enriquecimento das relações sexuais dentro do casamento?
Resposta: Não, pelas seguintes razões: (1) Produzirá
uma comparação injusta do casal com os modelos que posam e encenam para
material pornográfico; (2) Abrirá as portas para uma dependência da
pornografia, pois aumentará a tolerância para com este tipo de material; (3)
Acima de tudo, se constitui em violação do ensino do Senhor Jesus sobre a
pureza das intenções no olhar para uma mulher (Mt 5.28), do ensino de Paulo sobre
ocupar a mente com coisas aprovadas por Deus (Fp 4.8) e do décimo mandamento
“não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Ex 20.17). Em busca de maiores
esclarecimentos e melhoria na vida sexual, casais cristãos podem utilizar
livros sobre a sexualidade escritos da perspectiva bíblica, que ajudam a
aprofundar a intimidade marital e melhorar a técnica sexual no casamento, sem
incorrer em adultério e nos riscos envolvidos no uso de material pornográfico.
7) É errado fantasiar durante as relações maritais, trazendo à mente imagens de relações sexuais?
Resposta: Sim, conforme resposta dada à pergunta
anterior. É uma violação de Mateus 5.28 e de Filipenses 4.8.
8) A pornografia vicia?
Resposta: A julgar pela quantidade de pessoas que
consomem regularmente material pornográfico anos a fio e pela quantidade de
cristãos que lutam durante muito tempo para se libertar do hábito de ver
pornografia, respondemos que sim. Da mesma forma que fumantes estão conscientes
dos males que o fumo causa à sua saúde, porém não conseguem renunciar ao prazer
que fumar lhes traz, os adictos à pornografia, mesmo conscientes dos males que
ela traz para sua alma e para sua família, não conseguem com facilidade
renunciar ao seu prazer, ainda que pecaminoso. Adictos da pornografia precisam
de ajuda para vencer o hábito.
9) Por que cristãos, que sabem que a pornografia é danosa e pecaminosa, se aventuram ainda a visitar sites pornográficos na Internet?
Resposta: Vários aspectos da pornografia pela Internet
a tornam uma tentação ainda maior para os cristãos: ela é acessível, barata ou
grátis, e seu consumo é absolutamente anônimo. Os cristãos não mais precisam
sair de suas casas e enfrentar a vergonha de ir a uma banca de revista ou
videoteca para adquirir pornografia – a mesma é abundantemente disponível em
sua casa, sob todas as formas, num clique do computador. A razão primordial,
porém, é a degradação do coração humano. Tal corrupção permanece no cristão e o
inclina a todo mal. Conforme ensina o Senhor Jesus, “de dentro, do coração dos
homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, … os adultérios … as
malícias … a lascívia…” (Mc 7.22-23). Ensina ainda o apóstolo Paulo: “as obras
da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia…” (Gl 5.19).
10) O que caracteriza um cristão viciado em pornografia?
Resposta: A principal característica é o consumo
regular de material pornográfico. A freqüência pode variar, desde diário até
uma ou duas vezes ao mês. O que importa é que o cristão, apesar de sentir-se
culpado, acaba sempre retornando para mais uma olhada. Não estamos dizendo que
olhar uma vez por ano é permitido. Continua sendo pecaminoso da mesma forma,
mas não caracteriza o vício.
11) Quando alguém viciado em pornografia deveria procurar ajuda pastoral?
Resposta: Tão logo perceba que realmente se tornou um
hábito que não consegue vencer sozinho, ou no caso de casados, quando percebe
que não consegue libertar-se somente com a ajuda do cônjuge. Muito embora
alguém relute, envergonhado, em revelar seu problema secreto, é preferível
sofrer esta humilhação do que mergulhar mais e mais neste vício danoso.
12) O consumo de pornografia é um problema que afeta somente os homens cristãos?
Resposta: Infelizmente, não. Mulheres cristãs também
têm sido afetadas e se tornam consumidoras de pornografia. Há um número
crescente de mulheres envolvidas, de acordo com estatísticas recentes. Antes,
as mulheres eram mais viciadas em novelas e romances. Com o advento da
Internet, são as principais frequentadoras das salas de chat (bate-papo), onde
tudo pode acontecer. Em tempos recentes, mais e mais mulheres – inclusive
cristãs – têm se tornado consumidoras de pornografia pela Internet. Para alguns
pesquisadores, as mudanças culturais pós-modernas têm engendrado mudanças na
mente feminina, de forma neuroquímica e neuroanatômica, tornando-as mais
propensas a consumir imagens e a ser mais agressivas.
13) Se uma pessoa casada está tendo problemas com pornografia, deveria confessar ao cônjuge?
Resposta: Sim. No processo de vencer este hábito
pecaminoso é importante ter alguém – de preferência o cônjuge – a quem prestar
contas dos seus atos e pedir orações e apoio. Além disto, consumir pornografia
é pecado contra o cônjuge, pois se constitui em adultério. Biblicamente,
deveríamos confessar ao cônjuge e pedir-lhe perdão, além de seu apoio e ajuda
para vencer o hábito.
14) Todas a formas de nudez são pornográficas?
Resposta: Não necessariamente. Um dos ingredientes da
pornografia é a intenção deliberada de provocar o despertamento sexual mediante
a exposição do corpo humano. Existem obras de arte, chamadas de “nus”, cuja
intenção não é esta, e que não provoca qualquer reação de caráter sexual nos
observadores. Também, a nudez no ambiente do casamento certamente não pode ser
considerada como pornográfica.
15) É lícito ao cristão ver imagens de nudez apenas para apreciá-las como arte?
Resposta: Devido ao fato que somos seres sexuados, é
praticamente impossível se expor à nudez sem que haja despertamento sexual,
fantasias, desejos, impulsos e intenções. Isto é agravado pela presença da
natureza pecaminosa no cristão, tornando-se praticamente impossível para um
homem apreciar a nudez feminina sem o despertamento da lascívia e intenções
sexuais. Além disto, a indústria pornográfica produz imagens de mulheres e
homens nus, não para serem apreciados como arte, mas para provocarem o
excitamento sexual e a masturbação. Por fim, ao cobrir a nudez de Adão e Eva
(Gn 3.21), Deus já indicou que a nudez deve ser velada e desfrutada apenas no
ambiente de casamento.
16) Em muitas tribos indígenas é comum se ver homens e mulheres nus. A nudez e o conceito de pornografia não são, portanto, uma questão cultural?
Resposta: Sem dúvida há um aspecto cultural da nudez,
mas a pornografia transcende aos limites culturais. A nudez em si, se não for
comercializada ou usada para fins eróticos – que é o caso de uma tribo indígena
– não é necessariamente pornográfica, muito embora reflita os efeitos do pecado
na cultura. Deus, ao cobrir Adão e Eva após a Queda, nos deu um padrão a ser
seguido quanto à exposição dos nossos órgãos sexuais. Desta forma, podemos
considerar que a nudez entre índios é um aspecto da pecaminosidade da cultura
diante dos padrões de Deus, mesmo atenuada por gerações e gerações mergulhadas
na ignorância. A pornografia, por sua vez, é intencionalmente maliciosa e
perversa, em qualquer cultura.
17) Por que Deus cobriu a nudez de Adão e Eva?
Resposta: De acordo com a Bíblia, o homem e a mulher
viviam nus, ao serem criados, e não se envergonhavam (Gn 2.25). Um dos
primeiros efeitos do pecado foi passarem a ter vergonha de si mesmos, o que os
levou a se cobrirem com folhas (Gn 3.7). A nudez, antes inocente, agora estava
marcada pelo estigma do pecado, como se ambos passassem a ter vergonha de expor
seus órgãos genitais e sua intimidade diante um do outro e do próprio Deus (Gn
3.10). Caridosamente, Deus confirmou a necessidade do casal em encobrir a sua
nudez, dando-lhes uma cobertura mais duradoura, de peles, antes de expulsá-los
do jardim (Gn 3.21). Não sabemos ao certo porque o primeiro pecado trouxe a
vergonha da nudez. Certamente não foi porque tal pecado residiu nas relações
sexuais, conforme popularmente difundido. Provavelmente porque os órgãos
genitais expressam a intimidade maior de uma pessoa. E agora que estavam
manchados pelo pecado, Adão e Eva não desejavam ser vistos em sua intimidade.
18) A linguagem de textos bíblicos que falam das relações sexuais e do amor erótico pode ser considerada como pornográfica?
Resposta: Não, pois tratam da sexualidade e das
relações sexuais no contexto do casamento, onde estas coisas podem ser
expressas com gratidão a Deus.
19) A masturbação é errada?
Resposta: Este hábito está profundamente ligado à
pornografia. A masturbação é errada porque envolve o uso de imagens mentais
eróticas e fantasias sexuais, violando Mateus 5.28. Dificilmente alguém se
masturbaria pensando nas cataratas do Niágara.
20) Já que a pornografia é legal no Brasil, por que um cristão, que também é cidadão brasileiro, não pode consumi-la?
Resposta: O motivo é que o cristão se rege
primeiramente pela Palavra de Deus. Ainda que no Brasil seja legal a
publicação, veiculação e consumo de material pornográfico, contudo as
Escrituras condenam a prostituição, a perversão sexual, o adultério, a sodomia,
o lesbianismo, e outras práticas sexuais que são objeto da pornografia.
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Augustus Nicodemus Gomes Lopes é Reverendo da Igreja Presbiteriana do Brasil, teólogo calvinista, professor e escritor natural da Paraíba. Foi chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie no período de 2003 a 2013, cargo que visa manter a confessionalidade presbiteriana da instituição.
Sua obra aborda as questões exegéticas, teológicas e práticas a partir de uma perspectiva reformada. Sua linha de interpretação segue o método gramático-histórico em oposição ao método histórico-crítico de interpretação. Além de questões exegéticas e teológicas, Augustus Nicodemus aborda questões práticas como família, missões, santificação e plenitude do Espírito, culto, guerra espiritual.