Muito da angústia sentimental genuína que Um Filho transmite para o espectador se materializa em momentos nos quais o adolescente Nicholas (Zen McGrath) é confrontado diretamente pelos pais, Peter (Hugh Jackman) e Kate (Laura Dern), sobre o seu comportamento errático e deprimido. Em cada uma dessas cenas, das quais Um Filho tem talvez uma mão cheia, o roteiro de Florian Zeller e Christopher Hampton empurra habilmente os personagens na direção de uma ruptura de consciência que seria fundamental para evitar a tragédia para qual a trama se encaminha - mas, em cada uma delas, os personagens falham em pronunciar as palavras que concretizariam essa ruptura, perpetuando a comunicação incompleta que define a família no centro do filme.
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De certa forma, é muito mais fácil escrever uma história que soletra todas as suas nuances em diálogo do que uma história cujo próprio desfecho depende e muito daquilo que os personagens deixam de dizer uns para os outros. Nesse sentido, Um Filho é um trabalho dramático até mais consumado do que o filme anterior de Zeller, Meu Pai, que foi uma das grandes figuras do Oscar 2021 - e com o qual esta nova obra divide laços narrativos, uma vez que Anthony Hopkins interpreta o mesmo personagem em ambos os longas. Enquanto Meu Pai abusava de recursos cinemáticos para nos colocar na visão confusa de um paciente de Alzheimer, Um Filho escolhe uma abordagem visual e narrativa direta, folhetinesca, e luta para encontrar a ressonância que essa escolha tem potencial de causar.